O choro do bebê corta o silêncio da mansão como uma sirene. Há 3 horas que esse som não para, ecoando pelos corredores de mármore e subindo pelas escadas de Mógno. Lorena Nunes passa o pano no mesmo pedaço do chão pela quarta vez. Ela tem 24 anos, mãos calejadas de tanto trabalho e um aperto no peito que cresce a cada minuto. Aquele choro está mexendo com algo muito profundo dentro dela. Esse menino vai se machucar de tanto chorar, ela murmura, tentando se concentrar na limpeza.
No quarto do andar de cima, Miguel está no berço. É um bebê de 2 meses com o rosto vermelho e inchado de tanto chorar. Os lábios estão ressecados e ele faz movimentos fracos com a boquinha, procurando algo que não encontra. A mamadeira ao lado do berço tem um cheiro azedo. Estragou no calor da tarde. Adriana Silva, a babá de 28 anos contratada por uma agência cara, desapareceu às 6 horas. Disse que ia na farmácia comprar um leite especial, mas na verdade foi pro shopping encontrar as amigas.
Para ela, esse trabalho é só uma forma de ganhar bem sem fazer muito esforço. Lá embaixo, Gabriel Ferraz está trancado no escritório. Aos 32 anos, ele tem olheiras que não consegue esconder nem com o melhor café do mundo. A videoconferência com os japoneses já dura 2 horas e ele finge que não escuta o filho chorando. Senhor Ferraz, o senhor confirma o investimento? pergunta uma voz do computador. Claro, podem contar com a gente. Gabriel responde no automático, olhando para a foto de Helena na mesa.
O choro de Miguel fica mais fraco, mais perigoso. Lorena não aguenta mais. Ela larga o pano e sobe correndo com o coração disparado. “Por favor, que não tenha acontecido nada”, ela sussurra na escada. Quando abre a porta do quarto, leva um susto. Miguel está quase sem forças no berço, a pele quente demais, os olhinhos meio fechados. Ele faz uns movimentinhos com a boca, como se estivesse procurando comida. Ai, meu Deus do céu. Lorena corre e pega o bebê no colo.
Ele está quente, suado, claramente desidratado. Calma, pequeno. Tia tá aqui. Ela cheira a mamadeira e faz cara de nojo. Azedou completamente. Miguel continua fazendo os movimentos de sucção no colo dela, desesperado por comida. É nesse momento que algo dentro de Lorena explode. Ela perdeu o próprio bebê há seis semanas e ainda produz leite. Ver Miguel assim, passando pelo que seu filho passou nos últimos momentos, é insuportável. Sem pensar, sem calcular, ela se senta na poltrona e oferece o peito ao bebê faminto.
Miguel para de chorar na hora. Ele mama com a força de quem estava morrendo de fome e finalmente encontrou salvação. Pronto, agora sim. Lorena sussurra, sentindo uma paz que não sentia há semanas. No andar de baixo, Gabriel finalmente consegue encerrar a reunião. Pessoal, a gente fecha isso amanhã, tá bom? Ele desliga e pela primeira vez percebe o silêncio. O choro parou. Preocupado, sobe para ver como Miguel está. Abre a porta devagar e congela. Lorena está na poltrona ao lado da janela, amamentando Miguel, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
A luz da tarde entra suave pela cortina e os dois parecem completamente em paz. Gabriel fica ali parado, sem conseguir processar o que vê. Que que diabo está acontecendo aqui? Lorena quase pula da poltrona. Ela cobre o peito rapidamente e segura Miguel com cuidado, os olhos arregalados. Senhor, desculpa, eu posso explicar? Gabriel dá uns passos pra frente, confuso e irritado. Explicar o quê? Você pirou, senhor. Ele estava passando mal. Lorena fala rápido, as palavras tropeçando umas nas outras.
Faz horas que ele tá chorando. A babá sumiu. A mamadeira tava podre. Mas isso não te dá o direito de Gabriel para no meio da frase. Ele olha pro filho e vê algo que não via há semanas. Miguel está dormindo tranquilo, respirando calminho, com uma expressão de paz no rostinho. Gabriel nunca viu o filho assim. Desde que nasceu, Miguel sempre foi inquieto, chorão, difícil de acalmar. E agora tá ali dormindo como um anjo. Como ele tá tão quieto?
Lorena limpa os olhos com as costas da mão. Ele tava morrendo de fome, moço. A mamadeira estava fedendo, toda talhada. não tinha mais nada para dar para ele. Gabriel se aproxima devagar, observando o filho. É a primeira vez que Miguel parece realmente descansado desde que nasceu. Mas você, de onde você tem? Ele não consegue terminar a pergunta. O silêncio fica pesado. Lorena abaixa a cabeça, a voz quase sumindo. Eu perdi meu filho faz seis semanas. Gabriel sente como se tivesse levado um soco no estômago.
Ele conhece essa dor. É a mesma que sente todos os dias desde que Helena morreu. Ainda tenho leite, mas não tenho mais bebê. Lorena continua, as lágrimas escorrendo. Quando vi o Miguel assim sofrendo, não consegui deixar. Gabriel olha para Miguel dormindo nos braços dela. O bebê parece ter encontrado algo que nem ele conseguiu dar pro próprio filho. A raiva que sentia se mistura com uma gratidão estranha. Ela salvou Miguel. Mas ao mesmo tempo, a situação é complicada.
Vai para casa, Lorena”, ele diz cansado. “Amanhã a gente conversa direito sobre isso.” Lorena entrega Miguel para ele com todo cuidado, como se estivesse passando algo muito precioso. “Só não deixa ele ficar muito tempo sem comer de novo, tá?” Ela sai do quarto meio tremendo, sabendo que fez algo que vai dar problema. Mas quando olha para trás e vê Gabriel segurando o filho, que finalmente dorme em paz, não se arrepende. Gabriel fica sozinho no quarto, olhando Miguel dormir nos seus braços.
Por alguns minutos, a dor de ter perdido Helena diminui um pouco. E agora, o que eu vou fazer? 10 da noite. Adriana finalmente aparece na mansão carregando sacolas de loja cara. A história do leite especial foi mentira desde o começo. Ela passou o dia gastando o salário em roupas e depois foi pro cinema com o namorado. Paraa Adriana, cuidar de Miguel é só um emprego que paga bem. Ela não sente carinho pelo bebê. Só vê ele como um meio de viver numa casa de rico, sem fazer muito esforço.
Encontra Gabriel no escritório mexendo no computador. Miguel tá dormindo no berço, coisa que ela não via há muito tempo. Nossa, que milagre! Ele parou de chorar. Gabriel levanta os olhos, ainda processando o que aconteceu à tarde. A Lorena cuidou dele hoje. Ah, que bom, Adriana responde, mas algo no tom de Gabriel a deixa em alerta. Durante a madrugada, Miguel acorda só uma vez, aceita a mamadeira sem drama e volta a dormir rapidinho. Paraa Adriana, que estava acostumada com noites de terror, isso é quase um milagre.
Na manhã seguinte, enquanto Gabriel toma banho, ela vai paraa cozinha sondar dona Célia. Célia, a Lorena fez alguma coisa diferente ontem. Dona Célia, que tem 55 anos e um coração do tamanho do mundo, não desconfia de nada. Tadinha. Ela ficou muito mexida ontem. Passou um tempão lá no quarto do bebê. Mexida por quê? Ora menina, a coitada perdeu o bebê dela faz pouco tempo e o marido ainda largou ela por causa disso. Adriana sente uma pontada de ciúmes.
Se Gabriel tá gostando da Lorena, ela pode perder a boca mais bem paga que já teve. O marido largou ela, disse que ela era fraca, que não soube cuidar da gravidez direito. Que maldade, né? A menina já estava sofrendo. As rodinhas da mente de Adriana começam a girar. Ela vê uma chance de se livrar da concorrência. Célia, posso falar uma coisa, mas não conta para ninguém, tá? Claro, filha. Adriana se aproxima, fazendo cara de preocupada. Ontem eu vi a Lorena fazendo uma coisa meio estranha.
Que coisa! Ela tava dando de mamar pro Miguel. Dona Célia arregala os olhos. Como assim? Do peito dela mesmo. Eu vi. Mas ela ainda tem leite? Tem. E tá se comportando como se fosse mãe dele. Ontem ficou horas só olhando ele dormir. Dona Célia fica sem saber o que pensar. Talvez ela só queria ajudar. Célia. Mulher que perde filho, fica meio, sabe como é, né? Pode ficar obsessiva. Adriana planta a primeira semente e sai correndo para espalhar a fofoca.
Pega o telefone e liga pra Márcia. Bitencur, a maior linguar do bairro. Márcia, preciso te contar uma coisa sobre o Gabriel. Oi, querida. Que foi? Aquela empregada dele, acho que ela tá tentando se aproveitar da situação. Como assim? Ela perdeu um bebê e agora tá obsecada pelo Miguel. Ontem peguei ela amamentando ele. Márcia quase derruba o telefone. Não acredito. É sério? Acho que ela tá tentando seduzir o Gabriel para ficar com a família dele. Que sem vergonhice, o pobre do Gabriel já não basta ter perdido a Helena.
É isso que eu penso. Alguém tem que avisar ele antes que vire uma situação. Deixa comigo. Vou falar com as meninas. Essa aproveitadora não vai conseguir. Quando Gabriel desce para tomar café, encontra Miguel sorrindo. É a primeira vez que vê o filho assim. balançando as perninhas e fazendo barulhinhos alegres quando Lorena passa no corredor. Gabriel fica emocionado. Ele gosta mesmo dela. Mas daqui a pouco o telefone vai começar a tocar e aí a vida de Lorena vai virar um inferno.
Gabriel observa Miguel no cadeirão do café da manhã. O bebê tá completamente diferente, sorrindo, movimentando as mãos, fazendo sons alegres toda vez que Lorena aparece. Bom dia, senhor. Ela cumprimenta meio sem jeito. Bom dia. O Miguel parece bem hoje. É, ele dormiu a noite toda. Precisava era de uma boa mamada mesmo. Gabriel vê como o filho reage à voz de Lorena e fica tocado. É a primeira vez que Miguel demonstra alegria genuína. Então, o telefone toca. 11 da manhã.
Alô, Gabriel querido, como você tá? É a voz melosa de Márcia Bitencur. Tô bem, Márcia. Que foi? Olha, a gente tá preocupada contigo. Andaram comentando umas coisas. Gabriel sente um aperto no peito. Que coisas? Sobre uma funcionária que tá, como é que eu posso dizer, se intrometendo demais. Márcia, do que você tá falando? Gabriel, mulher que perde filho, fica muito abalada. Pode desenvolver obsessão por outras crianças. Gabriel olha para Lorena no corredor e sente uma pontada de dúvida.
Obsessão? A Helena deve estar sofrendo no céu, vendo isso acontecer na casa dela. Gabriel desliga irritado, mas a semente já foi plantada. Uma hora depois, o telefone toca de novo. Dona Carmen, sogra de Helena. Gabriel, filho, você precisa se cuidar. Dona Carmen, a senhora tá bem? Tô sim, mas você que me preocupa. Soube que tem uma empregada fazendo confusão aí. Confusão, Gabriel, você tá muito vulnerável. É fácil uma oportunista se aproveitar da situação. A senhora soube de onde?
Todo mundo tá comentando, filho. Você precisa agir antes que vire escândalo. Terceira ligação. 4 da tarde. Teresa, melhor amiga de Helena. Gabriel, isso não pode continuar. O que não pode continuar? Essa situação com a empregada. A Helena ia ficar horrorizada. Gabriel começa a se sentir pressionado. Ele observa Lorena brincando com Miguel, que tá claramente mais feliz. Mas ele tá tão bem com ela. Nesse momento, Adriana aparece ao lado dele. Senhor, a Lorena pediu para ficar mais tempo hoje.
Por quê? Disse que o Miguel precisa dela para dormir bem. Adriana faz uma pausa calculada. Achei meio estranho. Estranho como? Ela não é mãe dele, né? Mas às vezes age como se fosse. Gabriel fica dividido. Por um lado, vê que Miguel nunca esteve tão bem. Por outro, todo mundo tá dizendo que ele tá sendo enganado. Ele lembra de como achou Helena. Confiou em todo mundo, nunca desconfiou de nada e mesmo assim ela morreu por negligência médica no hospital.
Será que eu tô sendo ingênuo de novo? O telefone toca mais uma vez. Gabriel olha pro número e reconhece Márcia. Dessa vez ele atende. Gabriel, você já pensou no que conversamos? Márcia, eu, filho, você não pode deixar isso continuar pelo bem do Miguel. Gabriel olha paraa Lorena, que tá cantarolando baixinho enquanto arruma as coisas do bebê. Miguel sorri toda vez que ouve a voz dela, mas a pressão tá ficando insuportável. Tá bom, Márcia, vou resolver isso. Quando desliga, Gabriel sabe o que tem que fazer, mesmo que dóe, mesmo que Miguel pare de sorrir.
Amanhã de manhã ele vai ter que demitir, Lorena. Gabriel não pregou o olho a noite toda. As palavras das vizinhas ficaram eando na cabeça dele, como um disco arranhado. De manhã cedo, o telefone já tocou três vezes. Gabriel, você decidiu o que vai fazer. Márcia falou com aquele tom de quem já sabe a resposta. Filho, não deixa isso virar escândalo. Aconselhou dona Carmen. Pela memória da Helena, você precisa agir, concluiu Teresa. Quando Gabriel desce para o café da manhã, o coração dele quase para.
Lorena está sentada no chão da sala, brincando de esconde esconde com Miguel. O bebê está gargalhando. Um som que Gabriel não ouvia há muito tempo. Achou? Lorena faz cóceegas na barriguinha de Miguel, que dá gritinhos de alegria. Gabriel fica observando da porta. Seu filho nunca pareceu tão feliz, nunca riu assim, nunca teve essa expressão de pura alegria. “Bom dia, senhor”, Lorena cumprimenta pegando Miguel no colo. “Bom dia, Gabriel responde, mas a voz sai estranha. Ele passa o café da manhã inteiro, observando os dois.
Miguel não larga de Lorena. Toda vez que ela se afasta, ele faz manha. Quando ela volta, ele sorri e estica os bracinhos. Esse menino tá grudado em você. Gabriel comenta tentando soar casual. É, ele é um grudentinho mesmo. Lorena responde beijando a testa de Miguel. Gabriel sente uma pontada no peito. Ele nunca conseguiu fazer o filho sorrir assim. Mas então o telefone toca de novo e de novo e de novo. Cada ligação deixa Gabriel mais tenso, mais confuso.
As pessoas que ele respeita, que fazem negócios com ele, que conheceram Helena, todas dizendo a mesma coisa. Quando chega meio-dia, Gabriel toma uma decisão que vai doer nele mesmo. Lorena, preciso falar com você no escritório. O tom dele muda completamente, frio, distante, formal. Lorena percebe na hora que algo está errado. No escritório, Gabriel fica atrás da mesa, como se ela fosse uma barreira entre eles. Lorena senta na ponta da cadeira, já com o coração disparado. Senhor, fiz alguma coisa errada.
Gabriel não consegue olhar diretamente para ela. Lorena, sobre ontem, o que aconteceu com o Miguel? Se eu errei, me perdoa. Eu só queria ajudar. Não é sobre estar certo ou errado. Gabriel para, passa a mão no cabelo. As pessoas estão falando. Falando o quê? Gabriel respira fundo. Cada palavra que sai da boca dele é como um vidro sendo engolido. Que você tá se aproveitando da minha situação, que que você perdeu seu filho e agora tá tentando ficar com o meu.
O rosto de Lorena perde toda a cor. Senhor, isso não é verdade. Eu jamais. Você amamentou ele, Lorena, sem perguntar, sem pensar no que as pessoas iam dizer, mas ele estava passando mal. Não tinha mais ninguém. Gabriel se levanta caminhando pela sala. Ele está lutando consigo mesmo, mas a pressão é grande demais. As pessoas acham que você tá tentando me seduzir, que quer roubar minha família. Isso é mentira. O senhor sabe que é mentira. Eu sei. Gabriel para e olha para ela.
Você perdeu seu bebê há seis semanas. De repente aparece aqui se comportando como mãe do Miguel. Eu trabalho aqui, faço meu serviço e e fica horas olhando ele dormir. Canta para ele, brinca com ele como se fosse seu filho. Lorena se levanta desesperada. Porque ele gosta de mim, porque ele fica feliz quando eu tô por perto. Esse é o problema, Lorena. Ele tá ficando grudado demais em você. Isso é ruim. Gabriel para de andar. A verdade é que não.
Não é ruim. Mas ele não pode dizer isso. Você tá demitida. O silêncio que segue é tão pesado que parece sugar o ar da sala. Senhor, por favor, não faça isso. Já decidido e não conte com referência minha. Senhor, eu imploro. Não tenho para onde ir. Gabriel vira as costas para ela. Não consegue olhar o desespero nos olhos de Lorena. Pega suas coisas e vai embora. Pelo menos me deixa me despedir do Miguel. Não é melhor você ir logo.
Lorena sai do escritório cambalenado. Dona Célia a vê na cozinha chorando e pegando suas poucas coisas. Menina, que aconteceu? Ele me mandou embora, dona Célia. Disse que eu tô me aproveitando da situação. Que absurdo. Você que salvou aquele bebê. Não adianta mais. Tenho que ir. Lá fora começou a chover. Uma chuva grossa, daquelas que encharcam em segundos. Lorena olha pela janela e vê a tempestade, mas não tem escolha. Gabriel a observa da janela do escritório. Ela sai caminhando devagar na chuva, com uma sacola plástica na mão e a roupa grudando no corpo molhado.
Por um momento, Gabriel quase corre atrás dela. A imagem de Lorena sozinha na chuva está cortando o coração dele, mas aí o telefone toca. Gabriel, soube que você fez a coisa certa. Foi o melhor para o Miguel”, diz Márcia. Gabriel desliga e vê Lorena virando à esquina, sumindo na chuva. Lá em cima, Miguel começou a chorar. A primeira porta que Lorena bate é da casa ao lado da mansão de Gabriel. A empregada nem deixa ela terminar de falar.
Aqui não tem vaga não. Na segunda casa a dona pelo menos escuta. Tenho experiência com limpeza, cozinha, cuidar de criança. Você tem referência? Tenho sim, do meu último trabalho. A mulher liga na frente de Lorena. Alô, senhor Gabriel. É sobre uma tal de Lorena que trabalhou aí. Gabriel olha para o telefone tocando e não atende. Desculpa, querida, ele não atendeu. Sem referência não posso arriscar. Na terceira, quarta, quinta casa, a história se repete. Sempre a mesma pergunta.
Tem referência do último patrão? No final do primeiro dia, Lorena ainda tem esperança. No segundo dia, começou o desespero. No terceiro dia, o dinheiro acabou. Dona Maria, me dá mais uma semana, consigo pagar. A proprietária do quartinho abala a cabeça. Lorena, você já tá devendo dois meses. O dono do imóvel tá cobrando. Só mais uns dias, por favor. Não posso, filha. É negócio, você entende? Lorena sai do quartinho carregando uma sacola de supermercado. Tudo que ela possui no mundo cabe numa sacola.
A primeira noite na rua. É um terror que ela nunca imaginou. Dormiu num banco de praça, usando o jornal como cobertor. O frio cortou até os ossos e ela não pregou o olho com medo. Na segunda noite, três homens se aproximaram dela quando tentava dormir numa marquise. E aí, gatinha? Tá sozinha? Quer companhia? A gente pode te ajudar. Lorena saiu correndo e se escondeu atrás de uma igreja até o sol nascer. Foi na terceira noite que ela conheceu seu João, um senhor de 60 anos, cabelo branco, que vive na rua há 10 anos.
Primeira vez aqui, né? Como o senhor sabe? Experiência. Você ainda tem jeito de gente de casa. Seu João aponta para um viaduto. Vem, fica com a gente, é mais seguro. Debaixo do viaduto tem um grupo de cinco pessoas, cada um com seu papelão, suas poucas coisas, sua história triste. Pessoal, essa é a Lorena, tá precisando de uma força. Bem-vinda ao grupo! diz dona Rosa, uma senhora que perdeu a casa quando o filho se viciou e vendeu tudo.
Seu João ensina Lorena as regras da sobrevivência. Onde conseguir comida, onde os seguranças não importunam, como se proteger. O importante é não perder a dignidade, filha. A gente tá na rua, mas ainda é gente. Mas conforme os dias passam, Lorena vai mudando. A roupa fica suja, rasgada, o cabelo embaraçado. Ela emagrece rápido, porque conseguir comida é uma luta diária. O pior é que seu corpo ainda produz leite. Toda manhã ela acorda com o peito dolorido, inchado, lembrando que tem comida para um bebê que não está mais com ela.
Miguel, será que ele tá bem? Será que tá comendo direito? Durante o dia, enquanto cata latinhas para vender, Lorena fica pensando no bebê. Se ele ainda sorri, se brinca, se procura por ela. Meu pequeno, mamãe não te esqueceu. Depois de duas semanas na rua, quando Lorena se olha no vidro de uma loja, não reconhece a pessoa que vê no reflexo, magra, suja, com olheiras fundas. Alguns dias ela conversa sozinha, lembrando das brincadeiras com Miguel. A dignidade que seu João falou está ficando cada vez mais difícil de manter.
A mansão virou um campo de batalha. Miguel voltou a chorar sem parar desde o momento que Lorena saiu de casa. Na primeira noite sem ela, Gabriel não dormiu nenhum minuto. Miguel chorou quase a noite toda, só parando de madrugada por pura exaustão. Que foi, filho? Papai tá aqui. Gabriel tentou acalmar, mas Miguel rejeitava seu colo. O bebê recusa a mamadeira, não aceita brinquedos, fica agitado o tempo todo. Quando finalmente adormece, acorda minutos depois, chorando. Adriana finge que está tentando ajudar.
Deve ser uma fase, senhor. Bebê tem dessas. Mas Gabriel vê que ela não está nem um pouco preocupada. Na verdade, parece até aliviada. Depois de três dias sem dormir direito, Gabriel contrata uma babá emergencial. Sônia chega toda confiante. Deixa comigo, Sr. Gabriel, 20 anos cuidando de bebê. Duas horas depois, ela está exausta. Meu Deus, nunca vi uma criança tão agitada. Miguel rejeita colo, rejeita a mamadeira, rejeita tudo que ela oferece. chora com uma intensidade que dói nos ouvidos.
Gabriel contrata a segunda babá. Carla, especialista em recém-nascidos, tenta uma abordagem diferente. Senr. Gabriel, essa criança tá passando por algum tipo de trauma. Trauma? Bebês criam vínculos afetivos muito fortes. Quando perdem esses vínculos, sofrem. Mas que vínculo? A mãe dele morreu no parto. Alguma pessoa específica que cuidava dele? Alguém que ele via todo dia. Gabriel quase fala de Lorena, mas engole as palavras. Não, ninguém especial. A terceira babá é Márcia, a mais cara e experiente da cidade.
Senhor, em 25 anos de profissão, nunca vi um caso igual. Miguel está perdendo peso visivelmente. Mal mama, dorme pouco, fica irritado constantemente. Gabriel está desesperado. O pediatra Dr. Santos examina Miguel e fica preocupado. Senhor Gabriel, fisicamente ele está bem, mas há algo perturbando muito essa criança. Doutor, ele não para de chorar. Bebês expressam um trauma emocional assim. Ele está rejeitando cuidados, rejeitando vínculos novos. O que posso fazer? Houve alguma mudança drástica na rotina dele recentemente? Gabriel hesita.
Bem, trocamos de babá, só isso? E demitimos uma funcionária que às vezes ajudava com ele. Dr. Santos anota: “Essa funcionária tinha muito contato com a criança. Tinha. Um pouco, senhor Gabriel. Bebês são muito sensíveis. Se essa pessoa criou um vínculo forte com seu filho, Gabriel não deixa o médico terminar. Doutor, o que importa é ele ficar bem. Mas por dentro, uma dúvida terrível está crescendo. As noites se tornaram um pesadelo. Gabriel anda pela casa como um zumbi, tentando acalmar Miguel, que chora sem parar.
Dona Célia tenta ajudar, mas Gabriel não quer ouvir. Senhor Gabriel, desde que a Lorena saiu, não quero saber, mas senhor, o menino mudou completamente. Célia, não se meta nisso. Depois de mais uma semana de inferno, Dr. Santos é direto. Senr. Gabriel, vou ter que internar a criança. Internar? Ele está desidratando, perdendo peso perigosamente. Precisa de cuidados. hospitalares. Gabriel olha para Miguel, magro e abatido no colo, e sente um medo que não sentia desde que Helena morreu. Doutor, ele pode ele pode morrer?
Vamos fazer tudo o que for possível, mas crianças podem definhar por motivos emocionais também. Quando Gabriel chega em casa, depois de internar Miguel, a mansão está estranhamente silenciosa. Pela primeira vez em semanas, não tem choro de bebê ecoando pelos corredores. E é nesse silêncio que ele finalmente admite para si mesmo. Pode ter cometido o maior erro da sua vida. Gabriel mal consegue trabalhar com Miguel internado. Ele vai ao hospital três vezes por dia, mas Miguel continua apático, rejeitando a mamadeira, perdendo peso.
“Senor Gabriel, a criança precisa de um estímulo emocional forte”, diz Dr. Santos. “Guma coisa que desperte o interesse dele pela vida”. Gabriel sai do hospital direto para casa, tentando pensar em alguma solução. É quando vê uma vizinha na calçada esperando ele. Gabriel, que bom te encontrar. É dona Marta que mora três casas adiante. Uma senhora que Gabriel sempre respeitou. Oi, dona Marta. Gabriel, preciso te falar uma coisa. É sobre aquela moça que trabalhava na sua casa. Gabriel fica tenso.
A Lorena. Isso. Olha, eu vi ela ontem no centro da cidade. Viu ela onde? Perto do terminal de ônibus. Ela tava, como é que eu falo? Pedindo esmola. Gabriel sente o mundo girar. Pedindo esmola? Tava bem magra, suja. Quase não reconheci. Que coisa triste, né? Gabriel entra em casa atordoado. Lorena, que salvou Miguel, está na rua pedindo esmola por causa dele. É nesse estado de espírito confuso que ele sobe para pegar algumas coisas no quarto de Miguel.
É quando ouve vozes no jardim dos fundos. Esse aqui é caro, importado, vale uns R$ 100. Gabriel se aproxima da janela e vê uma cena que o deixa em choque total. Adriana está vendendo remédios de Miguel para um homem estranho. Ele desce as escadas correndo e vai direto para o jardim. Adriana, que diabos você tá fazendo aí? Ela quase derruba a caixa de remédios. Ai, senhor, que susto. Você tá vendendo os remédios do Miguel? O comprador, sem saber que Gabriel é o pai, confirma.
Ela sempre vende aqui remédios de bebê caros. revendo numa farmácia. Gabriel explode de raiva. Há quanto tempo você faz isso, senhor? Posso explicar? Adriana entra em pânico. É que minha mãe tá doente. Adriana, onde você estava quando Miguel ficava chorando sozinho? Eu tava cuidando dele. Mentira. Você sumia e deixava ele sozinho. Pressionada, Adriana tenta jogar a culpa em outro lugar. Senhor, se aquela fachineira não tivesse se intrometido. Se intrometido como? Adriana percebe que falou demais, mas Gabriel não vai deixar passar.
Fala, Adriana, se intrometido. Como ela? Ela fala logo. Eu inventei que ela estava se aproveitando. Adriana Desaba. Menti sobre ela. Gabriel fica em silêncio por um longo momento. Você mentiu? Eu fiquei com ciúmes. Ela cuidava melhor do Miguel do que eu. Adriana. Gabriel se aproxima, a voz perigosamente baixa. A Lorena fez alguma coisa errada com o Miguel? Não. Ela salvou ele naquele dia. Ele estava muito mal, com febre alta. Ele podia ter morrido. Podia. Se ela não tivesse ajudado, ele teria morrido.
Gabriel sente como se tivesse levado um murro no estômago. E você inventou que ela estava se aproveitando? Eu tive medo de perder meu emprego. Ela era melhor babá que eu. Sai da minha casa, senhor. Sai da minha casa agora. Gabriel fica sozinho no jardim depois de expulsar Adriana. A verdade sobre a mentira dela está pesando no peito como uma pedra gigante. Ela perdeu o próprio filho e ainda assim salvou o meu. Ele pensa olhando para as próprias mãos.
E eu joguei ela na rua como se fosse lixo. Ele entra em casa e liga pra dona Célia. Célia, você sabe onde a Lorena pode estar, senr Gabriel? Tentei todos os contatos que ela tinha. Ninguém sabe de nada. E a família? Ela não tem ninguém, senhor. Os pais morreram. Não tem irmão. O ex-marido, esse desgraçado, foi ele que jogou ela na rua. Gabriel desliga e sente o peso da situação. Lorena está perdida na cidade, sem ninguém para ajudar.
No hospital, Dr. Santos está cada vez mais preocupado com Miguel. Senr. Gabriel, a criança não responde a nenhum tratamento. Fisicamente não há nada errado, mas ela está definhando. Doutor, existe alguma coisa específica que pode ajudar? Senor Gabriel, vou ser direto. Crianças podem morrer de tristeza. Ele precisa de algo que desperte a vontade de viver. Gabriel sabe exatamente o que é esse algo. Sempre soube. Doutor, se eu trouxer uma pessoa específica, se for alguém com quem a criança tem vínculo forte, pode ajudar sim.
Gabriel sai do hospital com uma missão. Encontrar Lorena antes que seja tarde demais. Mas por onde começar numa cidade de 12 milhões de habitantes? Ele decide começar pelos lugares óbvios. Volta ao endereço antigo dela. O prédio está em demolição. Moço, a menina que morava aqui sumiu faz umas três semanas, conta o porteiro. Saiu com uma sacola plástica e nunca mais voltou. Gabriel vai a agências de emprego, hospitais públicos, delegacias, nada. No segundo dia, ele amplia a busca.
Albergues, asilos, igrejas que distribuem sopa. Uma moça nova, cabelo castanho, perdeu o emprego recentemente. Rapaz, passa tanta gente aqui, responde um voluntário. Você tem foto dela? Gabriel percebe que não tem nenhuma foto de Lorena. Ela trabalhou na casa dele por meses e ele nunca tirou uma foto. No terceiro dia desesperado, Gabriel faz uma coisa que nunca imaginou. Vai aos pontos onde moram pessoas em situação de rua. Por favor, vocês conhecem uma moça chamada Lorena? A reação é sempre a mesma.
Desconfiança. Quem quer saber? Você é polícia? Tá fugindo de casa? Gabriel percebe que precisa mudar a abordagem. No quarto dia, ele está exausto. Dormiu mal três noites seguidas. Comeu pouco, está com a barba por fazer. É quando recebe uma ligação inesperada. Gabriel, é a Silvia do prédio da esquina. Oi, Silvia. Você não estava procurando uma ex-funcionária? Uma moça nova? Gabriel sente o coração disparar. Tava. Você viu ela? Teve uma menina aqui ontem batendo nas portas, magra, meio suja, pedindo trabalho.
Onde? Que horas? Por volta das duas. Mas Gabriel, ela tava com uma cara muito ruim. Ruim como? Parecendo doente e meio, sei lá, confusa. Gabriel anota o endereço e sai correndo. Quando chega no prédio de Silvia, anda pela região por duas horas. Nada. Uma frustração imensa toma conta dele. Está procurando uma agulha no palheiro. No hospital, Miguel piora a cada dia. Dr. Santos é direto. Senhor Gabriel, se não houver melhora nas próximas 48 horas, vamos ter que tomar medidas drásticas.
Que medidas? Alimentação forçada, internação em UTI. É a última chance. Gabriel sai do hospital sabendo que o tempo está acabando. Uma semana se passou desde que Gabriel começou a procurar Lorena. Ele contratou até um detetive particular. Senor Gabriel, procurar uma pessoa em situação de rua é muito difícil, explica o detetive. Elas se movimentam muito, mudam de lugar constantemente. Mas tem alguma coisa que podemos fazer? Vou espalhar a foto dela nos abrigos, postos de saúde, igrejas. Se alguém vir, me liga.
Gabriel deu uma foto antiga de Lorena que encontrou no sistema de câmeras da mansão. Enquanto isso, Miguel definha no hospital. Em uma semana perdeu mais peso e mal reage a estímulos. Gabriel divide o tempo entre visitas ao hospital e busca pelas ruas. Está virando um fantasma magro, com olheiras, obsecado pela procura. Dona Célia liga para ele preocupada. Senor Gabriel, o senhor precisa comer alguma coisa, descansar. Não posso parar, Célia. Miguel tá morrendo, senhor. E se a Lorena não quiser voltar depois de tudo que passou?
Gabriel para para pensar nisso pela primeira vez. E se Lorena o odiar? E se ela não quiser mais saber de Miguel, ela vai querer? Ele responde, tentando se convencer. Ela ama aquele menino. No oitavo dia de busca, Gabriel recebe uma ligação do detetive. Senr. Gabriel, tenho uma informação. Uma assistente social do centro reconheceu a foto. Onde ela viu, num posto de saúde da região central, mulher jovem com sintomas de gripe forte. Quando? Faz três dias. Mas, senhor, a descrição não bateu totalmente.
A moça tava muito diferente da foto. Gabriel vai correndo ao posto de saúde. Doutora, a senhora atendeu uma moça chamada Lorena nos últimos dias? A médica verifica os registros. Tivemos uma paciente sem documentos, sintomas de pneumonia inicial. Como ela estava? muito debilitada, desnutrição severa. Conseguimos dar antibiótico e orientação, mas ela foi embora. Para onde? Não sabemos. Disse que não tinha onde ficar. Gabriel sai do posto com uma pista concreta, mas também com mais preocupação. Lorena está doente.
Ele passa os próximos dois dias percorrendo a região central. pergunta em farmácias, padarias, qualquer lugar onde ela possa ter passado. No démo dia, quando Gabriel já está perdendo a esperança, recebe uma ligação que muda tudo. Alô, você é o Gabriel que tá procurando a Lorena? Sou quem tá falando. João, do pessoal da rua. Ouvi dizer que você estava procurando ela. Gabriel sente o coração disparar. Você sabe onde ela tá? Talvez. Mas primeiro quero saber por você tá procurando.
Porque eu cometi o maior erro da minha vida e preciso consertar. Que erro? Gabriel respira fundo. Acreditei numa mentira e joguei ela na rua. Agora o bebê que ela salvou tá morrendo no hospital. Silêncio do outro lado da linha. João, você tá aí? Tô, rapaz. Você fez mesmo uma coisa feia. Eu sei, por isso preciso encontrar ela. Ela tá mal, muito mal. Onde? Viaduto da radial leste. Mas se você fizer mal para ela de novo, não vou fazer, prometo.
Gabriel anota o endereço e sai correndo. No viaduto da radial leste, Gabriel encontra um grupo de pessoas morando embaixo da estrutura de concreto. Barracas de lona, colchões velhos, uma fogueirinha improvisada. João, um senhor de cabelo branco se aproxima. Você é o Gabriel? Sou. Onde ela tá? João aponta para uma barraca no canto lá. Mas ela tá com febre alta há dois dias. Gabriel se aproxima da barraca e encontra Lorena deitada num colchão velho, coberta com cobertores sujos.
Ela está irreconhecível. O cabelo está embaraçado, o rosto queimado de febre e ela emagreceu tanto que parece outra pessoa. Lorena, ela abre os olhos devagar, sem foco. Demora para reconhecer Gabriel. Gabriel, você tá aqui? A voz dela é um sussurro rouco. Vim te buscar. O Miguel precisa de você, Miguel. Os olhos dela se enchem de lágrimas. Como ele tá mal? Muito mal. Tá internado há duas semanas. Lorena tenta se sentar, mas não tem forças. Ele tá doente?
Tá. Os médicos dizem que é depressão. Ele não come, não dorme, só chora. Por quê? Por que você tá me contando isso? Gabriel se ajoelha ao lado do colchão. Porque descobri que a Adriana mentiu sobre tudo. Mentiu? Ela inventou que você estava se aproveitando da situação porque tinha ciúmes. Lorena fecha os olhos. E você acreditou? Acreditei e quase matei meu filho por causa disso. Gabriel. Lorena tenta falar, mas começa a torcir violentamente. João se aproxima. Rapaz, ela tá com pneumonia.
Precisa ir pro hospital. Lorena, vamos pro hospital. Você e o Miguel precisam se cuidar. Não. Lorena balança a cabeça fraca. Não posso. Não posso passar por isso de novo. Por favor, o Miguel pode morrer se você não ajudar. E você vai me jogar na rua de novo quando a sociedade reclamar? Gabriel olha nos olhos dela. Nunca mais. Prometo. Promessas. Lorena tosse de novo. Você já prometeu antes, Lorena. Se você não for comigo, você pode morrer aqui. E o Miguel pode morrer no hospital.
João intervém. Menina, você precisa se tratar. Não pode ficar assim. Lorena está fraca demais para resistir. Tá bom, mas só pelo Miguel. Gabriel carrega ela até o carro com cuidado. No banco de trás, Lorena sussurra. Gabriel, eu não vou voltar por você, só pelo menino. Eu sei e é só isso que importa. No caminho pro hospital, Gabriel liga para Dr. Santos. Doutor, tô chegando aí com a pessoa que pode ajudar o Miguel, mas ela tá doente. Traga ela direto pra emergência.
No hospital, uma equipe médica examina Lorena imediatamente. Pneumonia bacteriana, desnutrição severa, desidratação, diagnostica Dr. Santos. Vamos internar ela para tratamento. Doutor, ela pode ver o Miguel. Só depois que controlarmos a infecção, não podemos expor a criança. Lorena fica três dias internada tomando antibiótico e soro. Gabriel passa o tempo entre o quarto dela e o de Miguel. No terceiro dia, quando a febre de Lorena baixa, doutor Santos autoriza o encontro, mas só 15 minutos, os dois ainda estão fracos.
Gabriel leva Lorena até o quarto de Miguel numa cadeira de rodas. Quando ela vê o bebê magro e pálido na cama do hospital, chora. Meu Deus, o que aconteceu com ele? Miguel está dormindo, mas quando ouve a voz de Lorena, abre os olhinhos devagar. Por um momento ele fica confuso, depois reconhece ela. Pela primeira vez em semanas, Miguel esboça um sorriso fraco. “Oi, meu amor. ” Lorena sussurra, esticando a mão para tocar na mãozinha dele. Miguel faz um barulhinho baixinho.
O primeiro som feliz em muito tempo. “Posso tentar dar mamadeira para ele?”, Lorena pergunta. Dr. Santos hesita, pode tentar, mas com cuidado. Lorena pega Miguel no colo da cadeira de rodas. Ele está mais leve que lembrava, mais frágil. Quando ela oferece a mamadeira, ele olha para ela antes de aceitar. Devagar, meu menino, sem pressa. Miguel mama aos poucos, parando para olhar pro rosto de Lorena, como se quisesse ter certeza que ela é real. Gabriel observa da porta emocionado.
Ele estava esperando por você. Ele tá muito magro. Lorena responde preocupada. Dr. Santos anota tudo. Vou liberar vocês dois amanhã, se continuarem assim. Quando o médico sai, Gabriel se aproxima. Lorena, eu sei que não mereço, mas preciso te pedir perdão. Gabriel, agora não. Mas eu preciso falar. Você salvou meu filho duas vezes. Eu fiz pelo Miguel, não por você. Eu sei, mas quero que você saiba que aprendi a lição. Lorena não responde, continua cantarolando baixinho para Miguel.
Lorena, Gabriel insiste. Que foi? Você vai voltar para casa com a gente? Vou, mas só por ele. Ela olha direto nos olhos de Gabriel e não espera que eu confie em você de novo. Não espero. Só quero uma chance de provar que mudei. Gabriel, escuta bem o que eu vou falar. Lorena, para de cantar. Se você me humilhar de novo, se jogar na rua outra vez, eu sumo com esse menino e você nunca mais vai ver a gente.
Gabriel engole seco. Entendi. Eu vou cuidar do Miguel, mas você vai ter que conquistar minha confiança de novo. Do zero. Tá bom. Lorena volta a cantarolar. Miguel dorme tranquilo no colo dela pela primeira vez em semanas. Gabriel senta na cadeira do lado e observa os dois. Sabe que tem muito trabalho pela frente. Reconquistar a confiança de Lorena não vai ser fácil, mas pelo menos Miguel está vivo e isso já é um começo. Gabriel leva Lorena e Miguel para casa depois de uma semana no hospital.
A mansão parece diferente, mais vazia, com um silêncio estranho. Dona Célia aparece na porta principal, emocionada. Menina, que bom que você voltou. Como tá? Melhor, dona Célia. Devagar, mas melhorando. E o pequeno Miguel? Comendo bem, ganhando peso de novo. Gabriel carrega as bagagens de Lorena e para na frente do quarto dos fundos, onde ela ficava antes. Lorena, preparei outro quarto para você. O de hóspedes com banheiro próprio. Por quê? O que tinha de errado com o outro?
Nada. Mas esse é maior. Tem ar condicionado. Lorena olha para ele com uma expressão dura. Gabriel, eu não voltei aqui para ser tratada como princesa. Voltei pelo Miguel. Eu sei, mas sem mais, quero as coisas claras desde o começo. Gabriel engole a resposta e leva as coisas pro quarto que ela sempre ocupou. Nos primeiros dias, Lorena se dedica totalmente ao Miguel. O bebê vai melhorando aos poucos, come, volta a sorrir, mas ainda fica manhoso quando ela se afasta.
Com Gabriel, a conversa é mínima. Bom dia. Ela cumprimenta no café da manhã. Bom dia. Como foi a noite? Normal. Miguel dormiu bem? Sim. Gabriel tenta puxar mais assunto, mas Lorena sempre responde com uma ou duas palavras. Dona Célia, que conhece bem os dois, percebe atenção. Menina, o senhor Gabriel tá tentando ser gentil contigo. Eu sei, dona Célia, mas ele vai ter que ter muita paciência. Ele fez uma bobagem grande, mas pelo menos tá tentando consertar. Tentar é fácil.
Difícil é confiar de novo. Uma semana depois, Gabriel contrata um pediatra particular para acompanhar Miguel em casa. Gabriel, não precisa disso. Lorena reclama. O médico do SUS está cuidando bem, mas com médico particular é mais cômodo. Mais cômodo para quem? Foi no SUS que me salvaram quando você me jogou na rua. Gabriel fica sem resposta. Sabe que merece a indireta. É quando começam a chegar as primeiras ligações das vizinhas. Gabriel é a Márcia. Soube que aquela moça voltou para sua casa.
Voltou sim, Márcia. Mas filho, você acha isso prudente depois de tudo que aconteceu? Márcia, eu descobri que ela nunca fez nada errado. B como assim. A Adriana, que mentiu sobre tudo. A Lorena só salvou meu filho. Silêncio do outro lado da linha. Bem, se você tem certeza, Gabriel percebe que vai enfrentar muito julgamento daqui paraa frente, mas desta vez não vai ceder a pressão. À noite, quando coloca Miguel para dormir, Lorena flagra Gabriel observando da porta. Que foi?
Nada. Só Ele parece tão em paz contigo, Gabriel. A gente precisa conversar sobre o quê? sobre o que você espera que aconteça aqui. Gabriel senta na poltrona do quarto. Como assim? Você me trouxe de volta porque descobriu que a Adriana mentiu. Mas e daí? O que você quer de mim? Quero que você cuide do Miguel. Só isso? É, acho que sim. Lorena o encarar. Gabriel, eu não sou o brinquedo que você pega e larga quando quer. Se você mudar de ideia de novo, se alguém vier falar mal de mim, não vou mudar de ideia.
Como é que eu posso ter certeza disso? Gabriel não sabe o que responder. Como prometer algo depois de ter quebrado a confiança dela? Você não pode ter certeza, ele admite. Só pode esperar que eu aprenda com o erro. É. e torcer para não ter que passar por isso de novo. A conversa termina aí, mas o recado foi dado. Duas semanas depois, a notícia de que Lorena voltou já se espalhou por todo o bairro Nobre. As reações são as mais variadas.
Na quarta-feira, Gabriel recebe uma visita que ele já esperava. Três vizinhas aparecem na porta. Márcia, Teresa e Carmen. Gabriel, viemos conversar contigo, anuncia Márcia. Imagino sobre o quê. Elas entram e se acomodam na sala, todas com cara de poucos amigos. Gabriel, somos suas amigas há anos, começa Teresa. E como amigas, estamos preocupadas. Preocupadas com que, Teresa? Com essa situação. Você trouxe aquela mulher de volta. Aquela mulher se chama Lorena e ela voltou porque meu filho precisa dela.
Carmen interfere. Gabriel, você não acha que pode estar confundindo gratidão com outras coisas? Que outras coisas? Bem, você é viúvo há pouco tempo. Ela é jovem. Gabriel sente o sangue subir. Vocês acham que eu trouxe a Lorena de volta por interesse romântico? Não seria estranho”, diz Márcia. “Homem sozinho, mulher bonita cuidando da casa. Escutem bem.” Gabriel se levanta. A Lorena voltou porque descobri que vocês me fizeram acreditar numa mentira sobre ela. As três se entreolham desconfortáveis. “Que mentira?”, pergunta Teresa.
A Adriana inventou tudo. A Lorena nunca se aproveitou de nada. Ela salvou meu filho. Gabriel. Márcia tenta argumentar. Mesmo que ela seja inocente, as pessoas vão falar que falem. Você não pode ignorar a opinião da sociedade. Posso sim. Aprendi que a opinião de vocês quase matou meu filho. Nesse momento, Lorena desce as escadas com Miguel no colo. As vizinhas ficam em silêncio, observando. Miguel está visivelmente mais saudável que antes, bochechas rosadas, sorrindo, balançando as perninhas no colo dela.
Com licença, Lorena passa pela sala indo pra cozinha, fingindo não ver as visitantes. Gabriel. Márcia sussurra quando Lorena sai. Ela parece diferente. Diferente como? Mais segura. Antes ela baixava a cabeça quando passava por nós. Porque antes vocês faziam ela se sentir inferior. Teresa balança a cabeça. Gabriel, você mudou muito. Mudei para melhor. E se ela te manipular de novo? Ela nunca me manipulou. vocês que me manipularam. As três saem da casa visivelmente irritadas na calçada cox entre si.
Ele tá completamente cego. Essa mulher conseguiu exatamente o que queria. Coitada da Helena, deve estar sofrendo no céu. Mas Gabriel não liga mais. Pela primeira vez desde que Helena morreu, está fazendo o que acha certo. Naquele mesmo dia, ele recebe uma ligação inesperada. Gabriel é o Marcos. Gabriel demora um segundo para lembrar quem é Marcos, o ex-marido da Lorena. Isso mesmo. Posso ir aí e falar contigo sobre o quê? Sobre a Lorena. Tenho umas coisas para te contar sobre ela.
Gabriel fica desconfiado. Que tipo de coisa? Pessoalmente é melhor. Posso ir aí hoje? Não. Se quer falar comigo, é aqui por telefone mesmo. Gabriel, você não conhece o passado dela, as coisas que ela já fez. Marcos, seja lá o que você quer. Não estou interessado. Cara, ela te enganou. Como enganou a mim? Gabriel desliga o telefone. Meia hora depois, Marcos liga de novo. Gabriel, me escuta só 5 minutos. Não. Ela perdeu nosso bebê porque usava drogas na gravidez.
Gabriel congela. O que você disse? Drogas, cara. Por isso o bebê morreu. Ela não te contou? Você tá mentindo. Tenho os exames médicos. Posso te mostrar. Gabriel desliga, mas fica perturbado. Será que Lorena escondeu algo sobre a perda do bebê? À noite, quando Miguel está dormindo, ele decide perguntar: “Lorena, posso te fazer uma pergunta?” “Que pergunta?” “Sobre seu bebê. Como foi que Gabriel, por que você quer saber isso? Só curiosidade, Lorena o encarar. Alguém te falou alguma coisa?
Gabriel hesita. O Marcos ligou aqui hoje. E o que ele disse? Que que você usava drogas na gravidez? O rosto de Lorena fica vermelho de raiva e você acreditou? Não quer dizer, não sei. Por isso tô perguntando, Gabriel. O meu bebê morreu porque o médico demorou 3 horas para fazer a cesárea. Tá no laud do médico. Então o Marcos mentiu. Mentiu como sempre fez. Porque ele mentiria? Porque ele soube que estou morando numa mansão e quer se aproveitar.
Gabriel se sente idiota. Me desculpa, não devia ter acreditado. Gabriel, se você vai duvidar de mim toda vez que alguém inventar uma história, não vou. Foi só um momento de sei lá. Fraqueza. É fraqueza. Lorena balança a cabeça decepcionada. Gabriel, você precisa decidir. Ou confia em mim ou não confia. Não dá para ficar no meio termo. Confio. Então para de dar ouvidos paraa fofoca. Gabriel promete, mas Lorena percebe que ele ainda tem dúvidas. A confiança vai demorar mais para voltar do que ela imaginou.
Duas semanas depois do episódio com Marcos, Gabriel toma uma decisão. Não aguenta mais as fofocas, os olhares de julgamento, as insinuações. Ele senta no computador e escreve um post longo no Facebook. Quero contar uma história sobre como o preconceito quase matou meu filho. Há três meses, demiti minha funcionária, Lorena Nunes, por acreditar em mentiras sobre ela. Lorena havia perdido o próprio bebê no parto e ainda produzida leite materno. Quando meu filho Miguel passou mal e ficou sozinho, ela o amamentou, salvando a vida dele.
Algumas pessoas me disseram que ela estava se aproveitando da situação. Acreditei nessas pessoas sem questionar. Demiti Lorena de forma cruel, sem referência, sabendo que ela não tinha família nem dinheiro. Lorena passou semanas morando na rua. Adoeceu, quase morreu de pneumonia. Enquanto isso, meu filho definhava no hospital, rejeitando comida e perdendo peso perigosamente. Descobri depois que a babá Adriana Silva havia inventado tudo por ciúmes e negligenciava Miguel enquanto vendia os remédios dele. Corri atrás de Lorena e a encontrei doente debaixo de um viaduto no hospital.
Assim que ela pegou o Miguel no colo, ele voltou a sorrir. Lorena Nunes é uma heroína. Perdeu o próprio filho e salvou o meu. Eu quase matei meu bebê por dar ouvidos à fofocas. Se vocês conhecem Lorena, tratem ela com o respeito que ela merece. Gabriel publica o post às 9 horas da manhã. Em 2 horas tem 500 compartilhamentos. Em 6 horas passa de 5.000. Os comentários explodem. Que mulher incrível. Isso é amor de mãe. Gabriel, você errou feio, mas pelo menos assumiu e consertou.
Essa Adriana tinha que ser processada. Quero conhecer essa Lorena para dar um abraço nela. Mas também aparecem comentários negativos. Gabriel tá sendo manipulado de novo. Homem rico sempre cai no papo de mulher esperta. Essa história tá muito bem contada. Desconfio. Um canal de TV local liga para Gabriel. Senhor Gabriel, o senhor toparia dar uma entrevista sobre essa história? Só se a Lorena quiser participar. Gabriel conversa com Lorena. Quer falar na TV? Contar sua versão? Para quê? Para mostrar quem você realmente é, limpar sua imagem?
Lorena pensa um pouco. Gabriel, eu não preciso provar nada para ninguém. Eu sei, mas pode ajudar outras pessoas em situação parecida. Tá bom, mas eu falo por mim mesma, não por você. Na entrevista, Lorena é simples e direta. Eu só fiz o que qualquer pessoa faria. Vi uma criança passando mal e ajudei. Como foi ser acusada injustamente? doloroso, principalmente porque eu realmente amava cuidar daquele bebê. E como foi viver na rua? Difícil, muito difícil, mas conheci pessoas incríveis que me ajudaram.
Você perdoou o Senr. Gabriel? Lorena olha para Gabriel no estúdio. Perdoar é um processo. Não acontece da noite pro dia. Vocês pretendem se casar? Não. Lorena responde firme. Gabriel e eu não temos esse tipo de relacionamento. Gabriel fica um pouco constrangido com a resposta direta dela. O programa repercute muito nas redes sociais. Lorena recebe dezenas de ofertas de trabalho, convites para entrevistas, até propostas de livro, mas ela recusa tudo. Meu lugar é cuidando do Miguel. Adriana assiste ao programa de casa e fica desesperada.
Tenta se defender no Facebook. Eu estava protegendo a família. Achei que ela era perigosa, mas os comentários são devastadores. Você quase matou um bebê. Mentirosa. Espero que nunca mais consiga trabalho. Adriana exclui o perfil das redes sociais. Nenhuma família do bairro Nobre a contrata mais. Ela consegue apenas trabalhos como diarista em casas simples. As vizinhas fofoqueiras também ficam mal vistas. Márcia vira piada no WhatsApp do condomínio. A vizinha preconceituosa que quase matou um bebê. Mas nem toda a vizinhança muda de opinião.
Algumas pessoas ainda acham que Gabriel está sendo enganado. Essa mulher é muito esperta. Conseguiu exatamente o que queria. Pobre Gabriel. Primeiro perdeu a esposa, agora vai perder o patrimônio. Gabriel percebe que sempre vai ter gente contra ele, mas não liga mais. Seis meses depois da entrevista na TV, a vida na mansão encontrou um ritmo diferente. Miguel, agora com um ano e dois meses, é um bebê completamente diferente, saudável, esperto, carinhoso. Chama Lorena de mamãe e Gabriel de papai, sem confusão.
Gabriel mudou sua rotina, chega mais cedo do trabalho, ajuda a dar banho em Miguel, lê historinhas antes de dormir. Lorena, deixa que eu coloco ele para dormir hoje. Você sabe contar história? Tô aprendendo. Lorena vai cedendo espaço aos poucos. Vê que Gabriel realmente quer ser um pai presente, mas o relacionamento entre eles ainda é complicado. Gabriel, preciso falar contigo. Que foi? Quero adotar o Miguel oficialmente. Gabriel fica surpreso. Adotar? É, quero ser mãe dele legalmente. Lorena. Você já é mãe dele.
Todo mundo vê isso. Mas não nos papéis. Se acontecer alguma coisa contigo, se você mudar de ideia de novo, eu posso perder ele. Gabriel entende a insegurança dela. Tá bom. Vamos ver como faz isso. O processo de adoção é mais complicado do que esperavam. A assistente social faz várias perguntas. Qual é exatamente a relação entre vocês? Ela cuida do meu filho, Gabriel responde: “São namorados, casados?” Não, Lorena é enfática. Somos parceiros na criação do Miguel. E se o Sr.
Gabriel se casar com outra pessoa? A Lorena continua sendo mãe do Miguel. Gabriel responde sem hesitar. A assistente social anota tudo, mas parece confusa com a situação. Depois de três meses de papelada e visitas, a adoção é aprovada. Na audiência, o juiz pergunta: “Senora Lorena, a senhora tem certeza que quer essa responsabilidade?” “Tenho, doutor. Esse menino é minha vida. E o senhor, Sr. Gabriel, concorda em dividir a guarda? Concordo. A Lorena é a mãe que o Miguel sempre precisou.
Quando saem do fórum com os papéis, Lorena chora de emoção. Agora você é meu filho de verdade, Miguel, no papel e no coração. Gabriel também se emociona. Agora vocês são família oficial. Nós três somos família, Lorena corrige, incluindo Gabriel pela primeira vez. Três meses depois, numa manhã de domingo, Gabriel acorda com barulho no quarto ao lado. Mamãe, bola. Ele ouve Miguel falar. Gabriel vai até lá e encontra Lorena no chão, brincando com Miguel, que agora anda e fala várias palavras.
Papai. Miguel vê Gabriel e corre para ele. Oi, campeão. Gabriel pega o filho no colo. Miguel dá um beijinho nele e volta correndo paraa Lorena. Mamãe, papai aqui é meu filho. Papai e mamãe estão aqui. Gabriel senta no chão com eles. É bom acordar assim. É, Lorena concorda, mas ainda guarda uma certa distância. Lorena, hum, você é feliz aqui, de verdade? Lorena olha para Miguel brincando entre eles. Sou feliz com ele, muito feliz. E comigo? Como você se sente comigo?
Lorena demora para responder. Gabriel, você virou uma pessoa melhor, mais presente, mais humano. Isso significa que você me perdoou? Significa que estou tentando. Perdoar não é fácil. E você acha que um dia a gente pode ser, sei lá, mais que parceiros na criação do Miguel? Lorena para de brincar e olha para ele. Gabriel, vamos devagar, tá? Já temos uma família boa do jeito que está. Tá bom. Devagar. Miguel se joga no colo de Lorena. Mamãe, fome. Vamos tomar café?
Vamos. Gabriel se levanta e estende a mão para ajudar Lorena. Pela primeira vez em muito tempo, ela aceita a mão dele. Na cozinha, enquanto preparam o café da manhã juntos, parecem uma família normal, não perfeita, não sem cicatrizes, mas real. Gabriel, que foi? Obrigada por ter me deixado ser mãe dele. Obrigado você por ter me ensinado a ser pai. Miguel bate a colher na cadeirinha. Papai, mamãe, é meu filho. Lorena sorri. Sua família maluca. Gabriel ri. Família maluca, mas família.
Do lado de fora, Adriana passa de ônibus indo pro trabalho de diarista. Olha paraa mansão e vê pela janela a cena da cozinha. Gabriel, Lorena e Miguel tomando café juntos. Ela balança a cabeça e continua a viagem. Perdeu tudo por ciúmes e mentira. Marcos tentou mais algumas vezes ligar para Gabriel, sempre com novas histórias sobre Lorena. Gabriel nunca mais atendeu. As vizinhas fofoqueiras aprenderam a não se meter na vida alheia, pelo menos não tão abertamente. Dentro da mansão existe uma paz imperfeita, uma família que se formou através da dor, do erro e do perdão.
Miguel cresce cercado de amor. Gabriel aprendeu a ser o pai que sempre deveria ter sido. E Lorena encontrou uma felicidade que achava que tinha perdido para sempre. Não é um final de conto de fadas. Ainda há cicatrizes, desconfianças, medos. Mas é um final humano, real, e às vezes isso é melhor que a perfeição. Gostou dessa história? Você achou justo, Lorena ser jogada na rua daquele jeito?
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